terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Você sabia que uma mulher pode ter escrito a Bíblia?

Pois é....

Dedicando-se um pouco aos estudos bíblicos, é possível perceber que a Bíblia é uma arte compósita. Ela é a reunião de diversos fragmentos, escritos em épocas distintas e por autores diferentes. Isso acontece na maioria dos livros bíblicos, se não em todos.

A principal tradição que moldou a religiosidade hebraica, e como consequência, a tradição cristã, foi preservada nos escritos do Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia. Os exegetas hoje concordam que são 5 as principais tradições que compuseram o Pentateuco que hoje lemos: A Javista (J), a Eloísta (E), a Sacerdotal (P), a Deuteronomista (D) e um Redator (R) responsável pela compilação final.

A mais antiga destas tradições é a Javista (J), que, segundo Harold Bloom, importante crítico literário, pode ter sido obra de uma mulher. Ela provavelmente teria vivido na época do reinado de Roboão, filho de Salomão, em Judá, por volta do séc. X a.E.C. Contemporâneo seria o escritor do Segundo Livro de Samuel, Historiador da Corte. A autora J não era historiadora, nem religiosa. Sua preocupação era estritamente literária. Ela não escreveu com objetivos normativos nem cultuais.

A primeira narrativa da criação que aparece no livro do Gênesis não é de sua autoria, mas de autoria bem posterior (por volta do séc. VI a.E.C), atribuída à tradição sacerdotal. Sua é a segunda narrativa da Criação, que é a única dentre os antigos textos orientais a contar a criação da mulher (ou mesmo de um ser feminino).

Autora da tradição mais antiga, J é então a primeira responsável pela imagem de Deus que se difundiu no Oriente. O comum discurso de que as narrativas hebraicas sejam patriarcais não se aplica a J, uma vez que ela não possui heróis, mas heroínas. Sara, Rebeca, Raquel, Lia, Tamar, são mulheres fortes e importantes, ao passo que os personagens masculinos são apagados e rodeados por problemas e fraquezas. O estilo de J é suscinto, elíptico e irônico: seus leitores precisam ser perspicazes e bem dispostos a imaginar, com grande disposição para acompanhar a grande obra literária que ela constrói.




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