terça-feira, 7 de março de 2017

Modelado com o pó da terra, tornou-se um ser vivente!


O que salta aos olhos numa leitura atenta do segundo relato da criação (o mais antigo) é que, no princípio da narrativa, nada ainda existia por falta da chuva. Adiante serão indicados os nomes de alguns rios, como uma moldura que envolve a criação e garante a manutenção da vida criada. Antes, porém, de lançar a chuva, YHWH cria o homem, moldando sua forma do barro, como que para auxiliá-lo no processo vindouro de criação do restante do mundo. Neste relato, Deus tem uma imagem mais antropomórfica: ele cultiva o solo e molda, como um oleiro, tudo o que existe. A criação do homem a partir do barro identifica-o à terra, cultivável, sobre a qual pode nascer vida. A terra e o seu cultivo são dádivas de Deus oferecidas ao homem. Após criar o homem, YHWH planta um jardim para colocá-lo. Harold Bloom apresenta a teoria de que o autor dessa narrativa seja uma mulher, a J, responsável pela tradição javista do Pentateuco. J utiliza grandes artifícios de ironia, que, devido à distância cultural e temporal que dela nos separa, às vezes não conseguimos compreender. Para mim, neste trecho que ora analisamos, está bem clara a utilização deste artifício: YHWH parece uma criança, que com suas mãos inexperientes, molda um bonequinho usando um pouco de argila, e depois constrói um pequeno jardim onde pode colocá-lo e encenar a sua história. Vendo-o muito sozinho e impossibilitado de protagonizar uma história, o menino YHWH cria também uns animais e quer moldar uma moça. A argila acabou.... ele tira um pouco de terra da barriga do homenzinho criado, conserta o buraco e molda a mulher. Em breve, a história começará, quando a criatividade do menino der vida àqueles recém-criados personagens, e trouxer ao cenário uma astuta serpente falante.




Nenhum comentário:

Postar um comentário